terça-feira, 19 de maio de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 9


Impossível não colocar a Luna seja onde for
Em meio a uma pandemia sem precedentes -  até o momento já foram registradas 17.509 mortes provocadas pela Covid 19 e 262.545 casos confirmados da doença em todo o país - parecemos flutuar numa realidade impensável há uns três meses. Realidade paralela... será? Não. Ela é real. Acontece agora. E nos deixa, além de perplexos e medrosos, também com a certeza de que no futuro nada será como antes. Serão os sobreviventes pessoas mais íntegras, generosas e solidárias, por exemplo?

Amigos, tenho um novo passatempo. Nos muitos passeios entre quarto, sala e cozinha - porque continuo em isolamento social - dei agora para "tentar" compreender o que se passa na mente de pessoas cuja missão é nos manter vivos e com saúde. Na mente desse grupinho privilegiado, cujos ternos de grife (a maioria) os deixam com aparência de seres elegantes, inteligentes, intelectuais, conhecedores profundos das necessidades dos seres humanos. Lamentável ser apenas aparência.

Atualmente, acompanho, com certo interesse, as "novelas" que se desenrolam, dia após dia, nos castelos onde esse grupinho vive, e percebo as intrigas, mentiras, traições, etc e tal, que os "atores" principais usam para se apoderar de novos e proveitosos cargos, ou poderes, e ainda não perderem os que já possuem. Todos querem sempre mais, e mais, como na maioria das séries da Netflix. Ainda não sei quantos episódios terá a temporada, tantos são os conflitos apresentados.

Verdade seja dita: esses enredos conflitantes me ocupam grande parte do dia. Analisando, unindo os pontos, tentando descobrir, afinal, quem manda e quem obedece. Com essa "atividade", quase esqueço as dores do novo coronavírus, e da morte sofrida e solitária que provoca. Aliás, eles também esquecem, e se dedicam com paixão às tramas.

É um tal de entra ministro, sai ministro, ele disse isso, ele disse aquilo, o amigo é traidor, o outro é mentiroso, tem o vídeo, não tem o vídeo, é militar para todos os lados, respiradores que chegam  mas não funcionam, e muitas entrevistas, coletivas, pronunciamentos, para nos explicar o inexplicácel, enquanto negam e confirmam, dizem que a cloroquina salva, e a cloroquina mata, investigações, desmentidos, máscaras para todos, ou quase todos, fechamento do comércio, das indústrias. Lockdown.

Engraçado...não tem mocinho nessas "novelas"? Um bem bonitão, musculoso, de olhos azuis, inteligente, meigo, e cabelos iguais ao do Guga Chacra? Que pena... daria mais emoção às estórias (sem h) palacianas e até, quem sabe, descolaria um final feliz em meio a tantos enredos tragicômicos. Quem sabe, um dia... se sobrevivermos ao Covid 19.

O que não se pode mais alegar, nesta quarentena, é que o tédio nos deixa prá baixo, em depressão. Façam como eu, meus amigos, e acompanhem as peripécias, as aventuras, os mandos e desmandos dos nossos queridos salafrários trapalhões.

Quem sabe, hora destas, a gente acorda.

Cuidem-se

domingo, 3 de maio de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 8


Como hoje é o primeiro domingo de maio, e já passamos mais de um mês em isolamento social, eu e Lana decidimos curtir o dia na sala. Acordamos cedo, vestimos roupas confortáveis, e após um café reforçado, seguimos para nosso destino. Trajeto curto, de uns trinta segundos, mas repleto de lembranças de um passado de muitas outras viagens, um pouco mais distantes, claro. Paisagens como as do resort da Pousadoa do Rio Quente são as mais frequentes mas, temos também aquelas da ida à Croácia, que adoro, as do Rio de Janeiro e, mais recentemente, as de Floripa. Quantas recordações, meus amigos!

Verdade é que não demorou muito para chegarmos. Um, dois, dez passos e...chegamos. Êta lugarzinho aconchegante! De bom tamanho, sem luxos, mas com mordomias indispensáveis: TV, notebook, smartphone, Wi-Fi, e muito livros. Além de um peludo tapetão e de muitas almofadas. Se caminhar só um pouquinho mais, eis uma pequena sacada, com rede nordestina, e com uma incrível vista panorâmica da cidade. Pertinho fica a cozinha, onde pensamos almoçar só o que já estiver pronto, e bem mais tarde. Que privilégio estar aqui, amigos!

Primeira providência: ter conhecimento do que ocorre no Brasil e no mundo. Ficar "por dentro" das notícias, principalmente as do COVID 19, uma pandemia que tira a paz (e a saúde) do mundo. O que ouvimos é o de sempre: os mesmos conselhos, as palavras dos médicos, os comentários dos jornalistas, e inúmeras sugestões para afastar o vírus, e até para nos oferecer um certo conforto em tempos de pandemia e de isolamento. Parece até que o mundo parou, porque nada mais acontece. Ao menos com força suficiente para desbancar o novo coronavírus da tela principal.

Com relação ao COVID 19, ainda de atuação desconhecida dos cientistas, e sem medicação ou vacina para combatê-lo (ainda), resta-nos sentir medo. Isso mesmo: medo. Porque ele mata. E de forma pouco agradável. Já pensou morrer de falta de ar? Como se estivesse afogando sem água? Uma loucura!!! Ouço que as secretarias estaduais de Saúde  confirmam (hoje) no país 97.000 casos do novo coronavírus e 6761 mortes. O jeito é aderir aos conselhos da OMS, e demais autoridades: ficar em casa, usar máscaras, lavar sempre as mãos, usar álcool gel 70, e...rezar! Queridos, nada de facilitar a vida desses monstrinhos coloridos, que nos atazanam desde o final do ano passado.

Podem acreditar: neste lugarzinho distante de todo mundo, que fica nas alturas, o tempo passa rapidamente. Impossível  percorrer todas as possibilidades numa só viagem. Então resolvemos, eu e Lana, percorrer detalhadamente apenas o livro A Divina Comédia, de Dante, leitura que recomendo com entusiasmo. O escritor italiano Dante Alighieri, que viveu de 1265 a 1321, era um ser humano excepcional, de conhecimento ilimitado. Nesta obra prima ele relata sua viagem imaginária ao inferno, purgatório e paraiso, discutindo fé e razão, religião e ciência, amor e paixões. Fala de seus conhecimentos, seus temores, ódios e esperanças. Fala de política. 

Que tal dar uma voltinha pelo inferno logo de cara? Saber, por exemplo, como seremos punidos por nossos pecados na visão desse gênio da literatura medieval? É o que vou fazer agora, com certeza.  E antes do anoitecer, também vou até o tal de Google, tão conhecido e visitado mundo afora, para dar uma espiada no chamado "mapa do inferno", de Sandro Botticelli, uma das nuitas obras baseadas na viagem do poeta ao inferno. 

Enfim, eu e Lana tivemos um gostoso e produtivo domingo, repleto de novos conhecimentos e descobertas. E foi assim que, em meio a esta quarentena obrigatória, imposta aos que pretendem sobreviver, o tédio não teve vez, nem o desânimo, nem a tristeza. Só a esperança de que dias melhores virão.

Cuidem-se...