domingo, 3 de maio de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 8


Como hoje é o primeiro domingo de maio, e já passamos mais de um mês em isolamento social, eu e Lana decidimos curtir o dia na sala. Acordamos cedo, vestimos roupas confortáveis, e após um café reforçado, seguimos para nosso destino. Trajeto curto, de uns trinta segundos, mas repleto de lembranças de um passado de muitas outras viagens, um pouco mais distantes, claro. Paisagens como as do resort da Pousadoa do Rio Quente são as mais frequentes mas, temos também aquelas da ida à Croácia, que adoro, as do Rio de Janeiro e, mais recentemente, as de Floripa. Quantas recordações, meus amigos!

Verdade é que não demorou muito para chegarmos. Um, dois, dez passos e...chegamos. Êta lugarzinho aconchegante! De bom tamanho, sem luxos, mas com mordomias indispensáveis: TV, notebook, smartphone, Wi-Fi, e muito livros. Além de um peludo tapetão e de muitas almofadas. Se caminhar só um pouquinho mais, eis uma pequena sacada, com rede nordestina, e com uma incrível vista panorâmica da cidade. Pertinho fica a cozinha, onde pensamos almoçar só o que já estiver pronto, e bem mais tarde. Que privilégio estar aqui, amigos!

Primeira providência: ter conhecimento do que ocorre no Brasil e no mundo. Ficar "por dentro" das notícias, principalmente as do COVID 19, uma pandemia que tira a paz (e a saúde) do mundo. O que ouvimos é o de sempre: os mesmos conselhos, as palavras dos médicos, os comentários dos jornalistas, e inúmeras sugestões para afastar o vírus, e até para nos oferecer um certo conforto em tempos de pandemia e de isolamento. Parece até que o mundo parou, porque nada mais acontece. Ao menos com força suficiente para desbancar o novo coronavírus da tela principal.

Com relação ao COVID 19, ainda de atuação desconhecida dos cientistas, e sem medicação ou vacina para combatê-lo (ainda), resta-nos sentir medo. Isso mesmo: medo. Porque ele mata. E de forma pouco agradável. Já pensou morrer de falta de ar? Como se estivesse afogando sem água? Uma loucura!!! Ouço que as secretarias estaduais de Saúde  confirmam (hoje) no país 97.000 casos do novo coronavírus e 6761 mortes. O jeito é aderir aos conselhos da OMS, e demais autoridades: ficar em casa, usar máscaras, lavar sempre as mãos, usar álcool gel 70, e...rezar! Queridos, nada de facilitar a vida desses monstrinhos coloridos, que nos atazanam desde o final do ano passado.

Podem acreditar: neste lugarzinho distante de todo mundo, que fica nas alturas, o tempo passa rapidamente. Impossível  percorrer todas as possibilidades numa só viagem. Então resolvemos, eu e Lana, percorrer detalhadamente apenas o livro A Divina Comédia, de Dante, leitura que recomendo com entusiasmo. O escritor italiano Dante Alighieri, que viveu de 1265 a 1321, era um ser humano excepcional, de conhecimento ilimitado. Nesta obra prima ele relata sua viagem imaginária ao inferno, purgatório e paraiso, discutindo fé e razão, religião e ciência, amor e paixões. Fala de seus conhecimentos, seus temores, ódios e esperanças. Fala de política. 

Que tal dar uma voltinha pelo inferno logo de cara? Saber, por exemplo, como seremos punidos por nossos pecados na visão desse gênio da literatura medieval? É o que vou fazer agora, com certeza.  E antes do anoitecer, também vou até o tal de Google, tão conhecido e visitado mundo afora, para dar uma espiada no chamado "mapa do inferno", de Sandro Botticelli, uma das nuitas obras baseadas na viagem do poeta ao inferno. 

Enfim, eu e Lana tivemos um gostoso e produtivo domingo, repleto de novos conhecimentos e descobertas. E foi assim que, em meio a esta quarentena obrigatória, imposta aos que pretendem sobreviver, o tédio não teve vez, nem o desânimo, nem a tristeza. Só a esperança de que dias melhores virão.

Cuidem-se...

2 comentários:

  1. Adorei saber como foi seu dia nesta "viagem". Uma experiência que me pareceu bem gostosa também! Foi um dia proveitoso, apesar de bem diferente de outras viagens, mas que trouxe a vc e a sua companheira bons momentos.

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  2. Valeu, Stella. Só esqueci de comentar que durante essa "viagem" me deixei levar pelas vozes mágicas de Piero, Ignazio e Gianluca. Mas pretendo escrever em breve sobre eles. Afinal, navegar é preciso....

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