sábado, 25 de abril de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 7


Os últimos quinze dias serão difíceis de esquecer. Como se não bastassem as agruras do isolamento social imposto pelo novo coronavírus, mortal e fácil de se propagar por diversas direções e longas distâncias, a Lana Maria ficou doente. Muito doente.

Pensem, meus amigos: um dia você acorda e, como sempre, vai brincar e tomar o café da manhã com sua filhota de 4 patas. Percebe, então, que algo está diferente. Ela não corre ao seu encontro,  permanece imóvel na caminha, com o olhar perdido, e sem nenhuma emoção, nenhuma alegria, Nada.

O desespero toma conta. As lágrimas não param. Sozinha, em quarentena, nunca me senti tão impotente, mal sabendo o que fazer e a quem procurar. Um sufoco! Coloco a Lana em pé e percebo sua total desorientação: bate nos móveis, enrosca nas cadeiras, desconhece a casa em que vive há quase dezesseis anos e, pior dos piores, não me reconhece.

O primeiro telefonema, como sempre em situações limite, foi para minha irmã Isa e meu cunhado Fábio. E as primeiras palavras cheias de angústia: "Socorro, Beth, a Lana está morrendo". Vocês conseguem sentir o que foi aquela manhã?

A partir daí, com a COVID 19 tentando me pegar de surpresa, foram idas diárias ao veterinário (Leandro e Luan), exames de sangue, ultrassom, injeções...e nada do meu bebê melhorar. Pelos sintomas, achei que só  podia ser um AVC (minha mãe teve quatro, portanto estava bem familiarizada com os sintomas). Eles eram iguais na Lana. Então, vieram também as lembranças de mãe Lourdes, a dor de cada piora, a saudade.

Foram dias difíceis. Ela não sabia mais como comer, beber, e até andar. Dias sem alimentação. Como aceitar?  Mesmo com toda a família, e os veterinários, dizendo que ela estava muito velhinha, que a vida é assim, que todo ser vivo um dia morre, e outras frases feitas. Não consolam.

Eu não dava sossego aos veterinários. Ligava, mandava mensagens, chorava por qualquer motivo. E eles diziam: também pode ser que ela esteja com a Síndrome de Disfunção Cognitiva. Outro diagnóstico gravíssimo. Eu, impotente, só podia dar a ela todo meu carinho. Todos os cuidados  possíveis. E pesquisar no Google respostas para cada um dos sintomas da Lana.

Ao mesmo tempo, havia o medo e a preocupação pelo avanço terrível do novo coronavírus em São Paulo, no Brasil. Até hoje, 25 de abril, já são 52.995 de casos confirmados no país e 3.670 mortes. Onde chegaremos?

De repente, na segunda-feita passada, acreditem amigos, aconteceu o que chamo de milagre. Após algumas gotas de Gardenal, de muitas injeções para todas as infecções possíveis, e sem muita esperança de melhoras, minha linda simplesmente acordou, reconheceu a casa, deixou de olhar para o vazio e também me reconheceu, ao pedir o aconchego de sempre. Depois comeu e bebeu. Ainda com colher, sim. Ainda dependente, sim. Mas não importa. Ela tinha voltado. E isso faz quase uma semana. Uma semana incrível.

Não tenho palavras para expressar a leveza que carrego na alma. A alegria. Isolamento? Quarentena? Pessoal, nada se compara ao sofrimento de ver a vida, e a consciência,  levando para sempre alguém muito amado.

Fiquem em casa. Cuidem-se.



quinta-feira, 9 de abril de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 6

A  Covid 19 é uma grave pandemia, em todos os países
Apesar de jogar conversa fora não ser a minha cara, concordo que fazer isolamento social durante dias ou meses, obrigatório devido ao COVID 19, um vírus sem vergonha que anda espalhando terror pelo mundo,  também está fora do meu cotidiano.

Mas penso: "O que você prefere, Lia? Ficar no aconchego de casa, com toda a tecnologia a seu dispor, muitos livros para ler quando quiser, música para curtir, alimentos para refeições práticas ou elaboradas, a presença da Lana Maria, e por aí vai... ou então... ficar isolada num hospital qualquer, muitas vezes na UTI, com tubos e fios por todos os lados (quando tem leito, claro), sabendo que pode "partir" a qualquer momento?".

Ora, meus amigos! Tenham paciência... fico em casa com muito prazer, e sem precisar das leis impostas por este ou aquele governante. Entretanto, não é bem isso o que ocorre. Basta olhar pela janela ou ligar a TV. Muitas pessoas continuam transitando por avenidas e parques, não porque necessitam do trabalho para viver, mas porque estão entediadas, angustiadas, tristes, precisando fazer exercícios, ver gente, bater-papo, dar uma voltinha... E esquecem da outra opção para essa rebeldia: ter o novo coronavírus "passeando" pelo corpo, nos tirando o ar nosso de cada dia.

Eis o novo coronavírus 
Hoje, já são mais de 940 mortes e mais de 17.800 infectados pelo Brasil. O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, diz que o pico da tal curva ainda está para chegar, principalmente se começarmos a dar nossos pulinhos fora de casa. Previsão que pode causar um colapso no sistema de saude, ou seja, nem camas hospitalares teremos para os cuidados mínimos exigidos à sobrevivência. Já pensaram?

E aí surge minha principal pergunta do dia: por quê a maioria dos homens é mais propensa a abandonar uma quarentena necessária do que a maioria das mulheres? Por quê eles demonstram tamanha dificuldade em curtir a própria casa, os filhos, a mulher, de ficar isolado dos amigos por uns tempos? Enfim, nem por uma causa maior (sobreviver), boa parte de nós abdica de outros prazeres. Cadê a tal solidariedade?  

Superar adversidades é para os fortes. Seja um deles. Em tempos de guerra, como esta que estamos vivenciando, é preciso ter equilíbrio, e muita tranquilidade. É preciso saber quais decisões são mais acertadas para o momento (homens e mulheres). A decisão de hoje, por exemplo, mesmo após quase 30 dias de isolamento, é a de ficar em casa. Com certeza. E não pensem em viajar nos feriados da Páscoa. Para o bem de todos. 
Cuidem-se! 
Permaneçam
em isolamento social. 
Até

domingo, 5 de abril de 2020

Diário de isolamento pelo novo coronavírus - 5

Coloco aqui a Luna porque, aos sete meses,
ela é a esperança  de um novo mundo.

Depois das muitas coletivas do Ministro da Saúde, meu atento Luiz Henrique Mandetta,  entendi que hoje ou amanhã, o novo  coronavírus vai nos "pegar", queiramos ou não. O que se tenta, com este isolamento, é retardar tal encontro para dar condições aos sistemas de saúde mundiais de cuidar da população com um mínimo de dignidade e um máximo de bem estar. Se reorganizando, comprando materias, e com os médicos procurando tratamentos novos e eficazes para combater o COVID 19, virus ainda pouco conhecido.

Posso acreditar, então, que estamos em "compasso de espera", apenas aguardando a chegada do COVID 19 para atazanar um pouco mais a nossa vida? Será que já não é suficiente a esse vírus trapaceiro ter modificado o presente e o futuro da humanidade? Só no Brasil, por enquanto, os dados mostram 445 mortes e 10.361 infectados. No mundo, são mais de 1 milhão, de contaminados. 

Se estou com medo? Estou, muito.
Confesso que a realidade não me é nada confortável. Mas, consciente da gravidade da pandemia, agradeço muito estar em casa, e não em alguma cama de hospital.

Enquanto a progressão da doença vem assustando a todos, aumenta o estado de completa desordem que hoje impera no mundo: produção estagnada, desemprego, fome, desolação, solidão, condição mental caótica. De positivo: novos hábitos de higiene, de alimentação, além de uma nova maneira  de  se relacionar com amigos e familiares. 

Fica a pergunta: voltaremos aos teatros, aos cinemas, aos parques, às viagens e, até mesmo aos restaurantes, às baladas, e às lanchonetes? Ou ficaremos apenas nos conectando? Qual será a rotina daqui para a frente? 

Meus queridos, eu não sei.
Hoje é domingo, e esta quarentena de quase um mês já esgotou meu estoque de novidades. Mas não quero perder as vontades de outras realizações, sejam elas quais forem. Vou continuar assistindo aos filmes e séries da Netflix, e aos noticiários da TV (preciso estar sempre informada). Também vou ler o que puder, e comentar com os grupos de Whatsapp. Nestes novos tempos, escreverei no blog o que me aflige, farei as refeições em casa (preparadas por mim), e vou procurar fortalecer os laços de amizade com os conhecidos, sejam pessoais ou virtuais.

Meus amigos sabem que tenho a melhor companhia possível: a pequena Lana Maria. Apesar de seus 15 anos, e de muito dormir, ela permanece atenta a tudo, é carinhosa, e está sempre presente, aqui do meu ladinho. Que dádiva!
Minha Lana Maria
Luna é a alegria da família

Eu adoro esta foto. Mesmo.

Primeira vez dela no mar.
Atualmente, estão respeitando o isolamento

Cuidem-se. E ainda permaneçam em isolamento.
Abraço...com dois metros de distância...e obrigada por estarem comigo.