terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A triste decisão de Paula - Meu pequeno conto, quase uma crônica

Paula saiu do trabalho e foi direto almoçar. Rapidinho, engoliu a salada e a pequena torta de frango. Tomou um café e, sem nenhum aviso, sentiu um cansaço absurdo, uma certa confusão mental, e uma quase total apatia. Com esforço, levantou-se  da mesa e começou a andar. Queria chegar rápido mas não sabia onde. Stress? - perguntou a si própria - ou vou infartar aqui, no meio da rua? 

Após alguns passos, lentos e desordenados, parou novamente, e pensou que, sim, podia mesmo ser apenas exaustão. Tem estado muito tensa, sem foco, e vendo o serviço se acumular em sua mesa. Muitas consultas marcadas, muitos textos para escrever. Precisava reagir. Precisava decidir. Mas só quer descansar.

Em segundos, resolve não voltar ao escritorio. Já em casa, pega o celular, algumas fotos anrtigas, um livro que ainda não começou a ler, e caminha até seu pequeno jardim. Tudo no automático. Olha para as flores e plantas, poucas mas muito queridas, e checa se precisam de água. Resolve molhar um pouquinho cada uma delas. 

Ainda segurando o celular, o livro e as fotos, Paula senta-se na poltrona que sempre fica ali, esperando visitas inesperadas, tão cansadas quanto ela nesse momento. Hoje, a poltrona é sua. Se acomoda, coloca no chão o livro e as fotos, e começa a navegar na Internet. Não sabe exatamente o que deseja saber, ver ou ouvir. Muito estranho - reflete enquanto se acomoda na poltrona e fecha os olhos. Tem um sono incontrolável.

De repente, se vê novamente chegando em casa, mas desta vez toda radiante e brincalhona, de bom humor, beija Nick, seu filho de quatro patas, já a 10 anos vivendo ao seu lado. Ou mais. É jovem, mora sozinha, estuda e trabalha. Todos os dias, almoça ligeiro a salada de sempre, e toma um ou dois cafés, que adora. Paula gosta muito de sua rotina. Acredita que, com disciplina e determinação, determinada, ainda conquistará o mundo.  

Também desta vez, resolve não trabalhar à tarde. Cansada? Ao contrário. Está bem disposta e confiante. Mas quer passar a tarde refletindo e fazendo coisas que realmente gosta. Senta-se alegremente na poltrona do jardim, como faz sua mãe ao visitá-la, e começa a ler um livro. Também navega na Internet para conhecer o significado de cada palavra desconhecida. Às vezes, fecha suavemente os olhos. Paula se sente realmente feliz. 

Da cozinha a mãe chama. Sem saber como acontece, agora tem os olhos bem abertos, o coração aos saltos, as mãos úmidas, frias, e aquele cansaço brutal. 
"Paula, querida, onde você está?", pergunta a mãe em tom bastante aflitivo. "Vim te visitar. No trabalho disseram que estava doente. O que houve, está com febre?".

- Nada mãe, fica tranqiuila. Estou ótima! - porém começa a chorar com desespero. O que acontece? Paula não sabe e sua mãe tenta entender os motivos de tanta aflição, tanto desânimo. - Filha, venha para o quarto e se deite - Ela fecha as janelas do quarto e vai fazer um chá de maça com canela, bem quentinho, que a filha adora - Você vai ver que, rapidinho, estará bem melhor - comentou ainda bastante assustada.
Paula deita e fixa o olhar no teto estrelado. Fecha novamente os olhos esverdeados. Pede para ficar só. A mãe desiste, não entende absolutamente nada dos conflitos da filha, suas angústias, dúvidas. Não insiste e vai embora. Desiste.

Não sabe quanto tempo ficou assim, mas percebe que a noite se aproxima, que escurece. Levanta, volta ao jardim e, desta vez, senta no chão. Lentamente, começa a olhar suas fotos antigas. Em cada uma, a felicidade transparece nos momentos fotografados. Eles mostram os passeios de uma garota alegre, feliz, cheia de sonhos, divertida. Paula sabe que não é mais essa menina quase mulher de olhos iluminados. Chora mais uma vez. Está triste.

Enquanto faz carinhos em Nick, inicia a leitura do novo livro.  A noite chega suave, porém um tanto ameaçadora. A tarde passou rápida, mas ela está bem melhor, mais segura do que precisa decidir, e faz planos para o seu amanhã. Planos pessoais. Toma a decisão que pensou jamais querer para sua vida: Quando Nathan chegar, seu namorado conservador de muitos anos, vai dizer a ele que finalmente decidiu largar o emprego, aquele cargo tão duramente conquistado para, enfim, aceitar seu pedido de casamento, ter os filhos que ele tanto deseja e, se possível, ser feliz. 

Decisão tomada, Paula volta a chorar copiosamente.



Nada poder ser reparado em caminhos pré definidos



O casamento foi marcado. A demissão solicitada. E ela passsou a ter tempo, até demasiado, para cuidar dos preparativos para a belíssima cerimônia que oficializará sua união com Nathan. 

Mas verdade seja dita: é difícil saber se de fato Paula está feliz. Ela sempre anda cabisbaixa, com o olhar tristonho, alegando muito cansaço e desconforto mental. Reconhece que seu cotidiano segue passo a passo tudo o que foi decidido e planejado entre ela e os familiares de ambos os lados.

A vida atual é tranquila e sem atropelos, mas reconhece que, sinceramente, tanta normalidade nunca fez parte de seus sonhos ou metas para o futuro. Sempre gostou de desafios profissionais, correria, e de agitação social.

Sabe-se lá porquê, ao conhecer o belo Nathan, ela passou a acreditar que casamento era o melhor caminho a seguir. Nathan era inteligente, bem humorado e encantador. Sabia como expor as idéias e a todos convencer, principalmente quando o assunto era sobre felicidade, filhos. Em pouco tempo de namoro, a reviravolta: Paula se afastou dos amigos, do trabalho, e até da família. Apenas se ocupava dos preparativos para a grande festa de casamento. Queria tudo perfeito. Ao lado de Nathan, ela se sentia uma mulher feliz, tranquila, e realizada, mesmo sem lembrar da última vez que sorriu.

Numa bela tarde de sol, já com tudo preparado, e faltando poucos dias para a cerimônia, ela foi com a mãe ao atelier da estilista que criou um visual personalíssimo, e de acordo com seus desejos. Ao colocar o vestido de noiva, olhou-se atentamente no espelho. "Sim,  estava belíssima", pensou. "Mas quem era aquela mulher"?, perguntou a si mesma, perplexa. Diante do olhar de admiração da mãe, e da imagem de conto de fadas, refletida no imenso espelho à frente, Paula simplesmente surtou. De novo. Violentamente.

Desta vez, com a crise inesperada, e certa de que nunca ambicionou ser aquela mulher, arrancou o vestido do corpo, vestiu o jeans e a camiseta que estavam ao lado, e saiu correndo por calçadas e ruas desconhecidas. Mas nem o choro convulsivo, desesperado, era capaz de aliviar o  sofrimento, a dor que sentia. Tudo parecia um terrível pesadelo, do qual era impossível acordar.  Estava exausta. Entrou no primeiro taxi que surgiu, balbuciou algumas palavras, e adormeceu.

"Chegamos! Senhorita! Senhorita!  -  Era o motorista tentando acordá-la. Impossível. Paula estava inerte, deitada, um quase sorriso dava-lhe alguma coisa de infantil, como se estivesse em paz e ainda  dormindo, só que Paula já tinha partido. 

Lia Estevão  -  Jornalista

Produtora de fotolivros e albuns impressos  



sábado, 14 de janeiro de 2023

Vamos construir um futuro melhor?


 Bom janeiro meus amigos. O tempo passa tão célere que, quando damos uma relaxada nos afazeres, a realidade do aqui e agora, nos assusta: sem perceber, envelhecemos e nossos sonhos ainda estão quase todos incompletos. Não, deve ser um engano - pensamos rapidamente - ainda estamos no início da caminhada. Mas o espelho, a falta de energia, e  dores aqui e ali. nos conscientizam do momento real. 

Digo isso porque, a todo início de ano, é sempre a mesma coisa: deixar a vida mais leve e feliz com uma série de novas atitudes. E que desta vez é prá valer. Acontece que vamos protelando, justificando a demora e então, de repente, já é Natal e Revéillon de novo, e de novo, e de novo...até percebermos que a fase de lutas e conquistas terminou. Que agora só nos esta ter uma vida mais tranquila e com outros objetivos. 

Pergunto: você se preparou psicológica e financeiramente para essa realidade? 

De acordo com pesquisas recentes, de cada 100 pessoas apenas umas 30 chegam, nessa altura da vida, com autonomia para escolhas. Ao contrário de quando estavam ativas, agora o dinheiro é pouco e as despesas imensas. O que era destinado para o lazer, agora vai para os medicamentos necessários, e as oportunidades de correção de rumo, quase nulas.

A vida deixa de ser tranquila. Você deixa de ter esperança. Não faz novas amizades. Não tem sonhos nem objetivos. É quando a depressão chega de mansinho. Ameaçadora. Pronta para se instalar em todo o seu ser. 

Amiga, não permita que esse momento chegue em sua vida. Estude, pesquise, informe-se e, sem demora, tome as providências necessárias para um envelhecer digno, tranquilo, e só de alegrias.  Se já não podemos modificar o começo ainda podemos, com certeza, construir o futuro dos nossos sonhos.


Mil beijos