quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Pasmem, tive crise de carência em pleno isolamento


Ontem à noite, pasmem vocês, tive crise de carência.

Não que seja novidade na minha, na sua, na nossa vida. Posso até dizer que todos a vivenciam um pouquinho de vez em quando, ou até um montão. Mas convenhamos que fazer dela presença constante durante as 24 horas do dia já é demais, e afeta até nossos bichinhos de estimação. O que não é o meu caso fique claro. Apenas tenho momentos, geralmente quando vou ao passado.    Então docemente, mansamente, reclamei ao Senhor.

“Senhor, confesso que ando um tanto irascível, me irritando com tudo e todos com estranha facilidade. Sem falar das cobranças. Não sei por que cargas d’água cobro sempre perfeição nos outros, mesmo sabendo do quão longe estou de atingir meus próprios ideais. Disseram que é carência...”.

“É evidente, Senhor, que eu adoraria apresentar idéias claras e precisas sobre quaisquer assuntos, ter uma argumentação embasada para convencer gregos e troianos, ser poeta do amor e do sonho, ter a coragem de viver intensamente uma causa e de não aceitar a uniformidade vigente. Sim... também gostaria de ter uma companhia... É pedir demasiado?”.

Só que não fui sorteada com nada, não é? Sou tão igual aos seus mais de sete bilhões de seres (com exceção dos gênios) que me tornei uma chata. E uma carente nervosinha.


“Neste momento, Senhor, é quando vos conto da necessidade de todos nós a mais carinho e atenção, para vivermos alegremente, e sermos diferenciados. Sem as carências que me afligem. Não que sejamos todos infelizes. Longe de mim tal afirmação, mas...”.

Sei até que tem uma pesquisa por aí, bem recente, afirmando que apenas 28% da população brasileira diz não ter recebido o carinho merecido nesta vida. Estarão os outros 72% vivendo no modo feliz? Sei não...

Mas eu acredito, acredito mesmo, que carência e solidão têm muito em comum. Pergunto então, Senhor, por que não me enviou um companheirinho dedicado, amoroso, doce como favos de mel? Tanta gente ganhou um desses! Desculpa dizer, mas muitos nem mereciam esse mimo celestial, sabia?  

Pense comigo: quando jovem, linda, e inteligente, o que o Senhor me ofereceu? Bem... Me enviou um rapaz que amei de paixão, tão incrível ele “parecia” ser. Primeira grande paixão. E com quem fiquei mais ou menos uns sete anos. E depois? Descobri com imenso sofrimento seu lado sombrio: era terrivelmente mulherengo e um mentiroso de inigualável. Comi o pão que seu arquiinimigo amassou ao descobrir o tanto de filhos que trouxe ao mundo estando ao meu lado. Sei lá... Hoje até considero ser esse o destino reservado a ele. Mas não desculpo.

Bem Senhor, depois vieram mais umas quatro ou cinco tentativas “sérias”, entre muitos outros amores platônicos, porém todos, todos mesmo, sem nenhum caráter, e sem nada de especial tanto física quanto no cérebro. Para quem almejava dividir sua vidinha com um profundo conhecedor de física quântica, por exemplo, ou um expert em analisar passado, presente e futuro da humanidade, triste realidade a minha, concorda?


Devo supor, entretanto, que tal destino me foi traçado a muito, muito tempo atrás, e que novas aventuras ainda estão por vir.  Senhor, não demore porque nosso tempo é diferente. E o meu está passando bem rapidinho. Se for o caso de um novo mimo, ele nem precisa ser tão perfeitinho... Só charmoso e dengosinho.

Por fim, e sinceramente: Senhor, não mereci suas escolhas.

E pasmem vocês, amigos... Estou carente, de novo!

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