Depois da trajetória impecável, brilhante, do Red Bull Bragantino em 2021, campeão da série A2, e com direito ao acesso para a primeira divisão do Brasileirão Feminino, eu tive um período de encantamento e de muita esperança na evolução desse esporte tão renegado às mulheres. Verdade é que nunca se falou tanto em futebol feminino, sua evolução e crescimento. Os jogos eram lindos de ver e os estádios quase sempre cheios indicavam, finalmente, um futuro promissor nesse universo dominado por homens, preconceituoso e machista.
O time das bragantinas, e muitos outros por todo o país, fazia grandes espetáculos, jogando um futebol técnico, vertical, ofensivo, entrosado, e que davam prazer em acompanhar. Havia público e parte da grande mídia se fazia presente. Parecia que as garotas, finalmente, tinham encontrado seu espaço para brilhar, ao lado dos homens, e mostrar ao Brasil como o futebol feminino evolue.
Mas, o papel que a nossa sociedade ainda designa para as mulheres é secundário, nunca de protagonismo. Quando o campeonato brasileiro termina, parece que tudo se "normaliza": muito preconceito, pouco reconhecimento, nenhum investimento. Até quando?
Voltemos a Bragança Paulista e ao início do Brasileirão Feminino A1, em março de 2022. Do nada, penso eu, um "apagão" tomou conta das atletas. As mesmas que deram show no ano anterior. Agora, elas parecem dominadas pelo cansaço, pela desatenção, e até pela falta de comprometimento com a equipe. Além de uma incrível falta de sorte, ou de pontaria, ou de treinamento. Como se o encantamento por estar onde querem, e merecem, tivesse desaparecido. Então, o totalmente inesperado aconteceu: 7 jogos, 6 derrotas, 1 empate. Campanha até agora terrivel.
Não querendo justificar mas, a verdade é que as mulheres sempre tiveram que conquistar espaço em cenários dominados por homens. Difícil. E no futebol, em particular, só mostrar talento é insuficiente porque, eles continuam dizendo, "futebol é coisa para homem". Será que esse apagão pode estar ocorrendo simplesmente por falta de incentivo, e de um apoio maior, da diretoria do clube? Será que elas recebem os mesmos cuidados do time masculino? Impossível mesmo é que as meninas, como mágica, tornaram-se atletas sem técnica e descompromissadas. Garanto que não.
De acordo com pesquisa feita pela Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol, com a participação de 3.600 jogadoras, metade das atletas sequer recebe salário para jogar nos clubes. Elas conciliam o sonho de serem profissionais com outros empregos, para o próprio sustento. Claro que não é o caso do Red Bull Bragantino mas, quantas delas já não passaram por essa dificuldade até chegarem ao time de Bragança? Realizaram um sonho e foram campeãs. Ficaram mais visíveis e acreditaram numa nova realidade, mais promissora. Essa realidade se concretizou?
Em comparação com os homens, há extrema desigualdade em todos os setores do ambiente futebolístico: falta valorização financeira, visibilidade, reconhecimento e os investimentos e patrocinios sempre são destinados aos times masculinos.
As mulheres ainda são vistas como um ser frágil, dependente, e são raras as oportunidades de provar o contrário, sendo lembradas não por seu desempenho mas por sua beleza e sensualidade. A mídia, por exemplo, não dá a mesma importância à atleta feminina como dá ao masculino e, quando abre uma exceção, a pauta principal geralmente é a beleza da mulher, o corpo, a sexualidade, e nunca o esporte em si. As exceções, lamento, ainda são pontuais.
Não existe valorização, respeito, apoio. Enquanto a mentalidade da sociedade não mudar, as mulheres sempre terão dificuldade em conquistar espaço, e permanecer nele. Pode estar nesse isolamento social o motivo maior do apagão bragantino.
"Não é a identidade feminina que requer reconhecimento, mas sim a condição das mulheres como parceiras plenas na interação social" (FRASER, 2000).
Abraço a todas
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