quarta-feira, 21 de junho de 2023

Apenas mansamente triste


Quando, de repente, senti um sono incontrolável e até um certo mal estar físico, imediatamente pensei em cansaço mental. Mas justificar esses sintomas com desculpas esfarrapadas do tipo "ontem trabalhei demais", não seria verdade. A  exaustão de hoje, meus amigos, é injustificável, só que ela aqui está e, confesso, me incomoda bastante.  

Quantos de vocês, dia ou outro, já vivenciou um abatimento absurdo? Essa perca de foco, de não querer fazer nada, nem sair para conversar com amigos ou se divertir... Penso que pode ser uma crise de tédio, um estado silencioso de aborrecimento, sem causas aparentes. Entretanto, espero que não. Se assim fosse, juro que não saberia como sair deste entorpecimento, onde não se consegue sentir ou expressar emoções. Se pensar um pouquinho mais, sem dramas ou angústias, posso dizer que apenas estou apenas triste, mansamente triste. O que até é justificável, já que vivemos um período de incertezas sociais, econômicas e políticas. De muito blá-blá-blá e de poucas realizações. Cadê a esperança de um amanhã de sol?

Tem uma sacada, aqui em casa, onde quase sempre balança uma rede bege, sem nenhum atrativo, ou sofisticação. Dessas que a gente compra na praia, durante as férias, e que vai envelhecendo conosco. Agora, de tão usada, toda vez que me acomodo para "pegar" um solzinho e ler um livro, sempre arrebenta um fio aqui, outro ali. Qualquer dia me esborracho no chão, com certeza. Antes, ela era bem mais bonitinha. Agora, olhando bem, ela está feiosa  e um tanto acabada como, aliás, estão os caminhos da maioria de nossa população.   

Pessoal, quero ir para a praia e lá comprar outra rede...bem colorida...para alegrar a sacada. Simples assim. Quero uma que aguente os quilos que ando ganhando dos chocolates que devoro e do pouco exercício que faço. Ou quero, simplesmente, ouvir por todos os cantos que o Brasil tem jeito, que está no rumo certo. 

Perdida entre tantos pensamentos aleatórios, neste espaço ensolarado da casa, dá para desvendar (um pouco) da razão do meu abatimento. Afinal, a descrença num futuro pleno de possibilidades para se conquistar sonhos e objetivos de vida justifica estar mansamente triste. 

Ainda ontem tivemos uma terrível pandemia, que nos aprisionou em pequenos espaços por mais de um ano, e fez cerca de 700 mil mortes apenas no Brasil, tivemos e temos ainda uma guerra entre Rússia e Ucrânia que deixa o mundo em atenção permanente. Também observamos um assustador crescimento de preconceitos, de racismo, de vaidades que destróem, de egoísmos que sufocam, de imcompreensões, do ódio que mata, da buscas descontroladas pelo poder, e por aí vai.  

Quero mesmo ir para a praia, e comprar uma rede nova, colorida, e trocar meu estado mansamente triste pelo alegre otimismo da esperança.



Lia Estevão - Jornalista

Produtora de fotolivros e albuns de fotos impressas

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