quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Sambando na Dureza, mas com Glitter na Cara


 Ah, o Carnaval! Aquele momento do ano em que tudo se enfeita de purpurina, samba e um tantinho de caos organizado. De cair na gandaia!

Sempre gostei da festa. Das marchinhas nostálgicas aos batuques que fazem até a calçada tremer. No passado, era um tempo mágico, em que a gente esquecia as dificuldades e as desilusões amorosas para se fantasiar de qualquer coisa – princesa, cigana, trapezista ou até de abajur, porque a criatividade carnavalesca não tem limites. Tudo valia para sair pulando atrás dos blocos ou se esbaldar nas matinês, jogando confete e serpentina para o alto, como quem joga as preocupações para o universo. Lembro da empolgação de esperar o bloco passar, dos bailes nos clubes onde todo mundo cantava junto e dos lança-perfumes que deixavam o ar com aquele cheiro inconfundível de festança das boas.

Mas o tempo passou e, convenhamos, o Carnaval mudou. 

Antes, a gente se preocupava em não perder o sapatinho de cristal na folia (ou, no mínimo, o chinelo Havaianas). Agora, a gente torce para não perder o celular, a dignidade e o bom senso. Já não há matinês inocentes para a criançada, e os bloquinhos cresceram tanto que, de verdade, parece que estamos em um engarrafamento humano. 

O Brasil anda numa fase meio novela mexicana, onde todo mundo briga, os preços sobem mais rápido que escola de samba campeã, e a vida virou um eterno "quem pode mais, chora menos". Tá tudo caro, a paciência anda curta, mas... é Carnaval! Então a gente esquece que o café e a  picanha estão valendo ouro e vai pro bloco com a fantasia de "brasileiro guerreiro".

Sim, tem confusão, tem exagero, tem música que faria nossas avós desmaiarem de vergonha. Mas também tem alegria, tem encontro, tem aquele abraço suado no meio da multidão que vira história para contar. E tem uma coisa que segue firme e forte: o Brasil pode estar no sufoco, mas quando o tamborim bate, a gente ainda encontra um jeito de sorrir, sambar e fingir que segunda-feira não existe.

Então, bora aproveitar, porque depois vem a ressaca – e não falo só da cachaça, mas da realidade que nos espera na quarta-feira de cinzas. Até lá, que role o glitter, o batuque e a alegria, porque a vida já é difícil demais para não ter, pelo menos, quatro dias de pura fantasia.


Lia Estevão

Jornalista e produtora de albuns de fotos impressas, como livros que contam suas memórias

Informações por Whatsapp (16) 9.9165-4497




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

"Socorro, virei invisível! – Os efeitos nada divertidos de envelhecer".

Lia Estevão

Você percebe que o etarismo está batendo na sua porta quando, de repente, todo mundo começa a te chamar de "senhora(o)" com um tom meio piedoso. O garçom te entrega o cardápio já aberto na página das sopas, o médico fala devagar como se você tivesse voltado para a pré-escola, e sua opinião numa conversa some mais rápido que brigadeiro em festa infantil.

Fisicamente, a coisa também não ajuda. O metabolismo desacelera como um Wi-Fi ruim, os joelhos rangem mais que porta de filme de terror, e as rugas aparecem em lugares que você nem sabia que existiam. Mas o pior mesmo é o efeito social: as pessoas começam a agir como se sua data de validade tivesse vencido. No trabalho, te olham como um enfeite de prateleira. Na família, as decisões importantes são tomadas sem nem te consultar – mas, claro, se precisar de um bolinho de aniversário ou de um presente de Natal, é você quem tem que resolver.

O que pouca gente percebe é que esse isolamento forçado não afeta só o humor – embora ele vá ladeira abaixo mais rápido que dieta em fim de semana. O cérebro também sente. Quando te empurram para o cantinho do esquecimento, o risco de depressão, ansiedade e até problemas cognitivos aumenta. Afinal, se ninguém escuta o que você diz, pra que se esforçar para dizer? O perigo é começar a acreditar que não tem mais nada de interessante a oferecer, quando, na verdade, a experiência de vida já te rendeu um acervo digno de biblioteca.

E nem vamos falar dos conselhos gratuitos e não solicitados que começam a pipocar de todo lado. "Você tem que se cuidar!", "Já pensou em pintar o cabelo?", "Não é melhor evitar roupas muito jovens?". Parece que, de uma hora para outra, o mundo inteiro virou uma tia intrometida em reunião de família. O problema é que, ao invés de incentivo, essas "dicas" só reforçam a ideia de que envelhecer é sinônimo de declínio – o que é uma grande bobagem.

O resultado? Um combo de solidão, frustração e um leve desejo de sumir no mundo com uma mochila e um bom livro. Mas calma, que nem tudo está perdido! A melhor resposta para o etarismo é provar que idade não define competência, sagacidade ou a capacidade de dar boas gargalhadas. Então bora viver – e, se for pra ser invisível, que seja para fugir de boletos e reuniões chatas!


Destaques do blog da Lia

Marrom na primavera? Sim, senhora!

  Sou Palmeirense mas...sobrinha  trabalha no SPFC...então...  Existe um complô silencioso contra o marrom. Uma conspiração   bege, talvez. ...